Porque a nossa prefeitura ignora tão descaradamente o problema da mobilidade urbana na cidade? Porque tratar as reivindicações de mais segurança para os ciclistas com o já usual descaso e desculpas tão esfarrapadas que não fazem sentido nem mesmo um garoto do ensino fundamental?
Dando uma volta pela cidade, não é difícil concluir que a atual administração municipal, talvez uma das menos eficazes que Ponta Grossa tenha tido recentemente, interessa-se, seja lá por quais motivos, apenas por grandes obras. É o velho jargão político em prática: grandes obras tem visibilidade maior, trazem votos para o partido, proporcionam excelentes oportunidades para fotos de inauguração, discursos, etc. Mesmo assim, alguém me esclareça, porque deliberadamente evitar obras simples que podem trazer mais segurança aos ciclistas? Mesmo que o interesse seja as obras, não faria sentido incluir as grandes obras de parques e estrutura cicloviária que a cidade tanto precisa?
Se o interesse é a especulação imobiliária - e isso fica evidente para qualquer um que observe os arredores da cidade - não faria sentido incluir uma estrutura cicloviária, bicicletários nos terminais, paraciclos e demais facilidades para os ciclistas nas vias de acesso aos novos conjuntos habitacionais? Afinal, os moradores destes locais tão distantes do centro da cidade precisarão de locomoção barata de qualquer maneira, não é mesmo? Porque mandar esta população menos favorecida para tão longe, efetivamente isolando-os em um mundo diferente do mundo do centro da cidade, e ainda por cima fazê-los sofrer com um transporte público de baixa qualidade - não por culpa da empresa concessionária, mas pelo baixo investimento da prefeitura?
Eu já estive em reunião com o prefeito e ele me disse que não acredita em bicicleta para transporte; ele me disse que bicicleta é somente para recreação - ainda custo acreditar no que ouvi. Mas eu pergunto, em que mundo estamos onde um prefeito pode definir como a cidade será planejada e construída baseado apenas em opiniões pessoais, ultrapssadas, caducas e que ferem qualquer noção de sustentabilidade, proteção ao meio ambiente, estímulo à saúde pública e tantas outros conceitos modernos de mobilidade urbana sustentável?
Uma das respostas pode ser a ausência, na prática, do Plano Diretor Municipal. Com o plano diretor as coisas seriam diferentes, mas parece que nenhum prefeito e nenhum vereador gosta muito do Plano Diretor Municipal, pois o nosso esta bem enfiado em uma gaveta, sei lá de que departamento, e ninguém, de nenhum partido - esquerda ou direita - toca no assunto. O tabu do plano diretor é um desses tabus complicados, como casamento homosexual, aborto, pena de morte, etc. Melhor nem falar do assunto porque "esse negócio pode dar m____'.
Hoje eu acessei o site da Prefeitura de Belo Horizonte (links abaixo) e vi um programa completo de construção de ciclovias, ciclofaixas, bicicletários, etc. Mesmo que este seja um programa eleitoreiro (talvez não o seja) as ciclovias estão sendo construídas, uma a uma. Talvez não com o melhor planejamento, mas algo está sendo feito. Em Curitiba é a mesma situação: várias obras iniciais da estrutura cicloviária de Curitiba foram fracassos, por exemplo, calçadas compartilhadas que não levam ciclistas a lugar nenhum e só aumentam os conflitos de mobilidade no trânsito. Porem estes erros estão sendo corrigidos e a cidade está avançando. Muitos prefeitos (talvez orientados por assessores e secretários mais competentes que os que temos aqui em Ponta Grossa) estão reconhecendo - a exemplo do que vem ocorrendo no mundo todo - que investir na estrutura cicloviária da cidade pode render também resultados políticos, além dos óbvios benefícios para a população.
Eu não acho que ninguém da administração ou câmara dos vereadores seja uma pessoa má por natureza. Todos querem o bem para suas famílias e, de uma maneira ou outra, querem ver o tal "progresso da cidade" - por mais ultrapassado que esse conceito seja. A nível pessoal, parecem reconhecer as verdadeiras necessidades da população e, até certo ponto, tem conhecimento do assunto.
Então, porque é que continuamos neste marasmo político-administrativo?
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